O governo federal conta com a participação da iniciativa
privada nos projetos de infraestrutura e parcerias público-privadas,
mas, a curto prazo, grande parte dessas empresas está mais concentrada
em resolver seus problemas de endividamento.
Levantamento do banco
Goldman Sachs mostra que o setor empresarial tem uma dívida total de R$
3,6 trilhões, o equivalente a 61% do Produto Interno Bruto (PIB), e
cerca de metade desse valor tem vencimento a curto prazo.
— A curto prazo, as empresas estarão mais focadas na gestão do seu
balanço, na liquidez, do que em novos investimentos. A consequência
desse processo de ajuste é um investimento menor — afirmou Paulo Leme,
presidente do Goldman Sachs no Brasil, durante seminário realizado ontem
pela revista “Exame”.
Leme lembrou ainda que essa cifra, R$ 3,6 trilhões, é 22% superior a
toda a dívida pública interna e externa. O prazo médio desse
endividamento, por outro lado, é considerado baixo, de 6,7 anos, o que,
muitas vezes, exige rolagem frequente desses compromissos financeiros.
GERAÇÃO DE CAIXA EM QUEDA
Se
o endividamento do governo federal aumentou de forma acelerada, o mesmo
ocorreu no setor corporativo. A dívida das empresas brasileiras cresceu
cinco vezes em dez anos, mas a geração de caixa no mesmo período caiu
45%.
Os setores menos alavancados são os de varejo e alimentação, enquanto
os de mineração e metais e óleo e gás apresentam uma situação mais
complicada.
Apesar do quadro adverso, Leme reconhece que o setor privado deve
contribuir para a retomada da economia, mas ressalta que isso irá
acontecer por meio da entrada de recursos estrangeiros no país, que
poderão financiar esses projetos enquanto as empresas locais se
organizam:
— Há uma oportunidade fantástica. O investimento estrangeiro tem
imenso interesse em participar, mas os desafios de curto prazo são
grandes.
SOLUÇÃO PARA CONSTRUTORAS
Devido à gravidade
do cenário, Leme defende medidas excepcionais para recuperar a
capacidade de investimento de empresas que atuam em setores específicos.
Como exemplo, citou as construtoras, uma vez que as grandes estão
envolvidas na Operação Lava-Jato, e boa parte delas já entrou em
recuperação judicial devido à dificuldade de conseguir novos
financiamentos e projetos em meio ao escândalo de corrupção da
Petrobras.
— É preciso ter uma espécie de fast track para construtoras.
Elas precisam ser responsabilizadas, mas não podem se descapitalizar. O
jurídico e o econômico precisam caminhar juntos — disse Leme.
No estudo feito pelo Goldman, para que o país retome a taxa de
crescimento de 4% ao ano, será necessário que a taxa de investimento
(formação bruta de capital fixo) se aproxime dos 20%. No segundo
trimestre, ficou em 16,8%.
O Globo
Postar um comentário