Tomar a vacina contra a Covid-19. Um dos maiores desejos para 2021, compartilhado por grande parte da população, já está sendo vivido por brasileiros fora do país. Entre os primeiros sortudos, está o casal de enfermeiros baianos Faila Pereira, de 37 anos, e Lenon Lacerda, 38, que receberam as primeiras doses esta semana, nos Estados Unidos.
Eles atuam na linha de frente contra o coronavírus no mesmo hospital localizado no estado da Virgínia. Pais de um menino de quatro anos, eles moram nos EUA há pouco mais de um ano. Enquanto Lenon recebeu a vacina da Pfizer/BioNTech, Faila recebeu a vacina da empresa americana Moderna.
Para Faila, que fez questão de registrar o momento da “agulhada” por vídeo (assista abaixo) e bateu palmas ao final, o sentimento foi de gratidão. Em entrevista à reportagem do Portal A TARDE, ela contou ainda que está ansiosa para a imunização chegar logo ao seu país de origem.
“Para nós é um privilégio ter esta oportunidade, é como uma recompensa por tudo que enfrentamos para estarmos aqui. Quando estava recebendo a dose da vacina, fechei os olhos, agradeci por este momento ímpar e pedi a Deus que levasse o quanto antes a vacina ao Brasil”, afirmou a baiana, que é natural de Salvador.
Segundo a enfermeira, a vacinação é feita por agendamento e prioriza profissionais de saúde que atuam em unidades de tratamento contra o coronavírus. “Meu marido recebeu a vacina no dia 22 de dezembro. Eu não pude receber de imediato porque estava me recuperando da Covid-19, tive resultado positivo no dia 8 de dezembro e o protocolo do Hospital na época era aguardar 90 dias após o diagnóstico. Recentemente o protocolo foi modificado para a partir de 14 dias. Fui então vacinada segunda-feira, 4 de janeiro”, explicou.
Quanto ao efeito colateral, Faila relatou que Lenon “não sentiu absolutamente nada”, mas que ela teve dores no corpo e no local da aplicação, efeitos esperados da vacina. Para alcançar a imunização em sua totalidade, os dois receberão uma segunda dose, 21 e 28 dias após a primeira dose. Até lá, no entanto, a baiana ressalta que vai continuar com as mesmas precauções como uso de máscara, limpeza de mãos e distanciamento social, pois a primeira dose não garante imunidade.
Esperança
Esta é a segunda vez que a enfermeira baiana concede entrevista ao Portal A TARDE. Em abril do ano passado, no início da implantação das medidas de contenção do novo coronavírus nos EUA, ela havia relatado que o país adotou ações parecidas com as do mundo inteiro como o isolamento social da determinação intitulada “Stay at Home Order”. À época, Faila também contou que tinha dificuldades para comprar álcool gel e outros artigos de higiene.
Oito meses depois, ela diz que as pessoas continuam respeitando o uso de máscara e que agora, os estabelecimentos são bem abastecidos de álcool gel, além de tomarem outras precauções. “Muitos oferecem máscara em caso da pessoa ter esquecido, além de lenços umedecidos para limpeza dos carrinhos e superfícies”, descreveu.
Segundo os últimos dados dos Centros para o Controle e Prevenção de Doenças de Atlanta (CDC), mais de 14 milhões de doses das vacinas dos laboratórios Pfizer-BioNTech e Moderna foram despachadas nos EUA. Porém, pouco mais de 2,5 milhões de cidadãos começaram o tratamento. O país é o mais afetado pela pandemia e já soma mais de 318.000 mortos e mais de 17 milhões de infecções pela covid-19.
Um dos motivos para a diferença do número de doses e vacinados pode ser a desconfiança. Faila relata que parte dos americanos, assim como parte dos brasileiros, ainda teme pela segurança das vacinas, mas que a tendência a adesão pode ser maior já que nenhum efeito colateral grave foi observado até o momento.
“A população aqui nos EUA está dividida. Até mesmo profissionais de saúde se mostram inseguros quanto à eficácia e os efeitos a longo prazo da vacina. Mas o que tenho visto nos últimos dias é muitos profissionais mudando de ideia e tomando a vacina, pois estão vendo que os efeitos graves são raros”, apontou.
Porém, ao ser questionada se em algum momento ela ou o marido sentiram medo, Faila foi categórica: “Em nenhum momento. Nós viemos de um país que tem a imunização por vacinas como um grande projeto de sucesso na saúde pública, o que nos deixa orgulhosos e ao mesmo tempo seguros”, ressaltou.
A certeza da plena imunidade contra o vírus já fez com que Faila e Lenon comecem a enxergar um futuro de mais normalidade. Afastada do Brasil, ela diz que pretende visitar amigos e familiares no meio do ano. “A vacina nos dá uma esperança e segurança para viajarmos sem maiores riscos”, contou.
Por fim, como profissional de saúde e uma das primeiras baianas a ser imunizada, Faila deixa um recado para o Brasil. A enfermeira defende a aplicação da vacina para o controle da pandemia e ressalta que a população que corre maior risco de morte ou complicações pelo coronavírus deve ser a primeira contemplada.
“Pensem com responsabilidade acerca dos grupos prioritários. Aqui nos EUA isto está sendo muito respeitado. No Brasil temo que alguns grupos que não estão em situação de risco queiram se sobrepor aos que realmente se expõem todos os dias. Quanto aos que não estão ansiosos pela vacina ou ainda estão com dúvida, posso dizer que temos uma grande possibilidade de acabar com a pandemia o mais rápido possível se todos formos imunizados. Houve um alto investimento científico e não podemos desprezar isto. Torcemos muito para que a vacinação seja o quanto antes iniciada no Brasil”, afirmou.
No Brasil, conforme o Ministério da Saúde, o governo federal já garantiu 300 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 por meio de três acordos: Fiocruz/AstraZeneca (100,4 milhões de doses até julho de 2020 e mais 30 milhões de doses por mês no segundo semestre); Covax Facility (42,5 milhões de doses); Pfizer (70 milhões de doses ainda em negociação).
Porém, até agora, nenhum imunizante está registrado e licenciado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), etapa prévia obrigatória para que a vacinação possa ser realizada. De acordo com último balanço nacional divulgado na noite da quarta-feira, 6, o número de mortes em decorrência da doença desde o início da pandemia é de 198.974, sendo que, nas últimas 24 horas, foram notificadas 1.242 novas mortes, maior número diário desde 25 de agosto, quando foram registrados 1.271 óbitos. Ainda há 2.552 mortes em investigação.
Os casos acumulados foram para 7.873.830. Entre terça e quarta haviam sido registrados 63.430 novos diagnósticos positivos, maior número desde o dia 17 de dezembro, quando houve um pico com 70.574 casos. Até terça, o sistema do Ministério da Saúde com dados sobre a pandemia marcava 7.810.400 diagnósticos de covid-19 ao longo da pandemia.
No topo da lista de mortes por Covid-19 estão São Paulo (47.511), Rio de Janeiro (26.068), Minas Gerais (12.211), Ceará (10.056) e Pernambuco (9.731). Já entre os últimos no ranking estão Roraima (789), Acre (814), Amapá (950), Tocantins (1.252) e Rondônia (1.875).
São Paulo também lidera o número de casos, com 1.501.085, seguido de Minas Geras (566.207), Santa Catarina (506.897) e Bahia (502.938). Os estados com menor número de casos são Acre (42.378), Roraima (69.180) e Amapá (69.469).
(A Tarde)