Com base nesses dados, o médico psiquiatra Cyro Masci afirma que o sistema de atenção aos transtornos psiquiátricos do Brasil deixa muito a desejar, o que contribui para esses números escandalosos. “A falta de informação e o preconceito sobre tais problemas são outros fatores que acabam por agravar o quadro. Isso porque muitas pessoas acreditam que tais problemas são algum capricho pessoal ou até mesmo uma espécie de fraqueza moral. E, na verdade, estamos falando de um transtorno médico, com origem em fatores biológicos, sociais e emocionais”, explica.
Diante dessa realidade, Masci propõe prestar atenção a alguns sinais e
sintomas que podem sugerir a necessidade de uma avaliação profissional
cuidadosa e possível tratamento especializado. O médico destaca 8 sinais
de alerta:
1 – Ansiedade ou Depressão?
“Embora
comumente a ansiedade e a depressão ocorram simultaneamente, ambas têm
várias diferenças. A ansiedade tem como característica principal estado
de preocupação e agitação debilitantes. Já a depressão, em geral,
apresenta-se por meio de grande tristeza, sentimento de inutilidade e
desesperança”, esclarece o médico.
2 – Mudança nos hábitos de vida
“Hábitos
como comer, beber ou dormir podem estar alterados, tanto para o excesso
quanto para redução, e podem ser sinais tanto de ansiedade quanto de
depressão”, afirma Masci.
3 – Dificuldade em tomar decisões ou de concentração
“Tanto
a ansiedade quanto a depressão podem afetar o que chamamos de funções
executivas do cérebro. A ansiedade afeta essas capacidades pela
preocupação com que algo possa dar errado. E a depressão altera as
funções do cérebro por reduzir tanto a capacidade de interação quanto o
interesse no mundo ao redor”, diz Masci.
4 – Apatia e perda de interesse
“Sinais
clássicos de depressão são a perda de interesse nas atividades que
anteriormente traziam prazer e contentamento, assim como um sentimento
de que a vida perdeu o sentido, acompanhado de uma sensação de vazio
interior”, explica o psiquiatra.
5 – Desesperança e desamparo
“Sentir-se
desamparado, como se nada ou ninguém pudesse fazer algo para melhorar a
vida, ou uma grande falta de esperança de que a existência possa
melhorar são outros grandes sinais de depressão”, lembra o médico.
6 – Mudanças no estado de humor
“Mudar
abruptamente de humor, tanto ficando facilmente irritado como se
criticando excessivamente, pode ser tanto um sinal de transtorno de
ansiedade quanto de depressão”, acrescenta.
7 – Fadiga persistente
“Qualquer
pessoa pode sentir cansaço ao final de um dia puxado. Mas se o cansaço
persistir por muito tempo, sem que uma noite de sono adequado ou um dia
de repouso restabeleça a disposição, é necessário esclarecer a causa,
que pode ser tanto a ansiedade quanto a depressão. Nesse caso, também é
imperativo esclarecer se existem outras condições médicas, como Síndrome
da Fadiga Crônica, Síndrome de Burnout ou ainda doenças como no
funcionamento da tireoide ou uma simples anemia”, orienta Masci.
8 – Desejo de isolamento
“Habitualmente
pessoas introvertidas tendem a recuperar energia ficando sozinhas,
enquanto extrovertidos ganham energia na companhia de outras pessoas. O
que é muito diferente de buscar isolamento por queda no interesse na
vida, que ‘não vale a pena’, ou por sentir que será extremamente
cansativo”, explica o especialista.
Ansiedade ou tristeza normais
Segundo
Cyro Masci, tanto a ansiedade quanto a tristeza são fenômenos comuns a
todas as pessoas, e nem sempre exigem tratamento. O médico exemplifica a
tristeza normal com algumas situações comuns, “como a que as pessoas
costumam sentir depois de uma perda importante, que pode ser o emprego, a
morte de uma pessoa próxima, ou de um pet de estimação”.
Já a
ansiedade normal, segundo Masci, “é o preço que o ser humano paga.
Ancestrais longínquos ficavam em atenção constante a perigos do
ambiente, e qualquer coisa que aparente ser um risco, ainda que remoto
ou imaginário, tem o potencial de colocar a pessoa em alerta”.
No
entanto, quando a depressão ou ansiedade ultrapassam os limites do
razoável, seja em intensidade ou na duração, e passam a afetar o
cotidiano, alterando a vida no trabalho ou familiar, ou a alegria de
viver, é preciso procurar ajuda.
Masci destaca ainda que muitos tendem a desvalorizar esses sintomas, por
exemplo, por conviver com muitas outras pessoas que têm ansiedade ou
depressão e não buscam tratamento.
Atribuir a uma causa externa
também pode ser enganoso. “Muitas pessoas sofrem desnecessariamente,
atribuindo seu estado ao passar dos anos, ao excesso de trabalho ou
ainda como inevitável por possuir uma doença crônica. Não é o caso.
Tanto a ansiedade quanto a depressão são condições que merecem as várias
conquistas que a ciência nos propicia, as diversas abordagens e
tratamentos disponíveis”, finaliza o psiquiatra.