As mulheres estão consumindo mais bebidas alcoólicas e sofrendo com as consequências. O alerta é do Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool (CISA), com base em dados da quinta edição do relatório "Àlcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2023", divulgados hoje. O levantamento aponta que, no período de 10 anos, de 2010 e 2021, o percentual de mortes entre mulheres por 100 mil habitantes atribuídas ao álcool cresceu 7,5% em todo o país e o de internações 5%.
O dado positivo do levantamento é que, comparando as estatísticas da
população brasileira por 100 mil habitantes nesses 10 anos, as mortes
caíram 4,8% e as internações 8,8%. Entre os homens a redução é ainda
maior: 8% e 13% respectivamente. Um dos motivos é a queda no número de
acidentes de trânsito, provocados em sua maioria pelo sexo masculino,
que é a segunda maior causa de óbitos provocados pelo álcool, perdendo
apenas para cirrose.
Embora
as mortes de homens ainda lideram, chama a atenção de especialistas o
crescimento da participação feminina, principalmente na faixa acima dos
50 anos.
A
socióloga Mariana Thibes, coordenadora do CISA, explica que, mesmo
consumindo menos bebidas alcoólicas que os homens, o aumento de mortes
entre mulheres se deve ao fato de o sexo feminino ter o corpo mais
vulnerável, ou seja, ter menos enzimas no fígado e menos água para
metabolizar o álcool na mesma proporção masculina e, por isso, ele
permanece por mais tempo no organismo causando mais danos. "A maioria
das mulheres não percebe que está bebendo em excesso", afirma.
Segundo
Mariana, poucas mulheres sabem que o álcool é um dos principais fatores
de risco para câncer de mama e outras doenças crônicas não
transmissíveis, como hipertensão e diabetes do tipo 2. Isso explica o
fato de, em casos de morte, a faixa etária acima de 50 anos ser a mais
impactada com consumo excessivo do álcool em razão de comorbidades já
adquiridas que se agravam.
O
relatório do CISA aponta ainda que, em relação ao pico de óbitos
atribuídos ao alcoolismo registrados entre a população brasileira no
primeiro ano da pandemia, houve queda de 2,3% em 2021, passando de 8.738
para 8.539 casos. Segundo o levantamento, no ano todo de 2021 ocorreram
69.054 mortes por causa de álcool (76,4% homens e 23,6% mulheres).
Consumo Moderado
Mariana
Thibes explica que tanto o consumo moderado de álcool quanto o
exagerado causam danos à saúde. Exemplos de consumo moderado são uma
dose de bebida (vinho, cerveja ou destilados) por dia para mulher e duas
para homens. Já o exagerado se configura em quatro doses no período de
duas horas para os dois sexos, mesmo sendo apenas durante finais de
semana.
"É
um grande equívoco dizer que beber ajuda a relaxar ou a dormir melhor,
como muitas pessoas afirmam para justificar o consumo de álcool. Esse
hábito acaba virando mania e só piora a qualidade do sono e agrava
problemas emocionais, causando inclusive danos à saúde mental", alerta a
coordenadora do CISA.
O
relatório aponta ainda que as internações relacionadas ao consumo de
álcool aumentaram 2,5% em 2021 em comparação com 2020, fechando o ano
com 336.407 hospitalizações (71% homem x 29% mulher). Para se ter ideia
do que isso significa, as hospitalizações por todas as causas no país
cresceram 6,5%, no mesmo período.
Outros
dados preocupantes constatados no levantamento são os de que 16 estados
brasileiros estão acima da taxa nacional de óbitos por 100 mil
habitantes (32,4 mortes por 100 mil/hab) e 11 estados e o Distrito
Federal superam a taxa nacional de internações, que é de 157,7
hospitalizações por 100 mil/hab.
No
rankink de internações lideram a lista Paraná, com taxa de 238,8% porr
100 mil/hab; Piauí, 233,8%; Espírito Santo, 209,1%; Rio Grande do Sul,
186,9% e Santa Catarina, 168,4%. Já em relação a mortes estão na frente
Espírito Santo, com 42,9% por 100 mil/hab, Paraná, 40,4%; Tocantins,
39,6%; Piauí, 36,6%; Sergipe e Goiás, 36,2%.