Mais de mil pessoas já foram internadas e 127 morreram de trombose na Bahia neste ano. De acordo com dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), os números referentes às internações por embolia e trombose arterial nos hospitais da rede estadual registraram um aumento de 28,9%, entre 2019 e 2022.
Neste mesmo período, os casos de internações passaram de 938 para 1.088 e os óbitos pela doença obtiveram um aumento de 34%. Foram 79 mortes pela enfermidade em 2019 contra 85 em 2022. Os dados são referentes às internações na rede hospitalar do SUS e óbitos por trombose.
Os dados fornecidos pela Sesab mostraram também que os registros de internação aconteceram mais em pessoas do gênero feminino do que no gênero masculino. Nos últimos quatro anos, foram registradas 8.989 internações de mulheres e 6.664 de homens.
Outro tipo da enfermidade bastante comum, a embolia e a trombose venosas registraram aumento de 8,9% das internações. O número subiu de 254 internações pela doença para 335 entre 2019 e 2022.
Em 2022, a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular publicou um estudo em que aponta a Bahia como o estado do Nordeste com o maior número de amputação de pernas ou pés. O estado realizou 21.069 procedimentos de amputações de membros inferiores no serviço público entre 2012 e 2021.
Em entrevista ao Bahia Notícias, o angiologista e cirurgião vascular César Amorim, Presidente da Associação Bahiana de Medicina (ABM), explica esses números e ressalta que mais de 80 mil nordestinos sofreram amputações nos membros inferiores durante o período.
“Pernambuco aparece em segundo lugar com 16.324 e Ceará em terceiro, com 10.574. Se a gente juntar o total da população nordestina entre 2012 e 2021, chegamos a cerca de 80.124 nordestinos que sofreram amputações nos membros inferiores”, diz o médico.
O especialista salienta que existem dois tipos de trombose: as arteriais, que ocorrem na circulação arterial, e a trombose venosa que ocorre nas vias que são fases responsáveis por levar o sangue dos tecidos de volta ao coração e depois ao pulmão para oxigenar.
“A trombose arterial é aquela que pode levar a uma perda da circulação para o tecido, por exemplo, para um membro inferior e aí você pode levar casos de amputação. A trombose venosa quando leva a um entupimento da veia, o membro geralmente ele incha e às vezes esse trombo pode desgarrar ir para o coração e depois pro pulmão e dar uma embolia pulmonar que pode ser um quadro fatal”, explica o especialista.
De acordo com Amorim, os fatores de risco que podem levar uma pessoa a desenvolver trombose arterial são o tabagismo, diabetes, colesterol alto, consumo de álcool, sedentarismo, obesidade, doenças cardíacas e idade avançada.
“Esses fatores de risco levam ao surgimento de placas de gordura nos vasos, essas placas evoluem com o tempo e por fim pode levar a obstrução de um vaso. O vaso vai levar a falta de oxigênio ao tecido injustamente porque o vaso está obstruído e com isso leva a morte do tecido e é isso que eleva os quadros de amputações”.
Quanto ao uso de anticoncepcionais, o médico faz uma observação de que os medicamentos podem contribuir para o desenvolvimento da trombose venosa.
“Às vezes trombose venosa num número maior em relação a trombose arterial. Mas esse também são causas de levar pacientes a obstrução e ao quadro de falta de circulação com falta de oxigênio para aquele determinado tecido”.
O especialista afirma que os homens são mais acometidos pela trombose arterial do que as mulheres. Quanto às internações, acontecem em sua maioria com pacientes com quadro diabético e que essas pessoas têm de 15 a 30 vezes mais chances de sofrer amputação do membro inferior, quando comparado a um paciente não diabético.
“80% das amputações não decorrentes de traumatismo ocorrem em pacientes diabéticos. E a incidência de amputação é de cerca de 50 a 90 para cada 10 mil pacientes com diabetes por ano”.
A falta de sensibilidade de alguns diabéticos nos membros inferiores pode levar ao aparecimento de úlceras que evoluem. De acordo com o especialista, 20% dos pacientes com diabetes vão sofrer úlceras, 50% dessas úlceras se infectam e cerca de 20% evoluem para amputação do membro.
A pandemia da Covid-19 também foi um fator causador do aumento de amputações, de acordo com o especialista. “O número de amputações no Nordeste sofreu uma alta progressiva extrema em 2019 e 2021 e que se manteve também em 2022. Isso sem dúvida nenhuma foi decorrência da falta de acompanhamento desse paciente, principalmente diabéticos, que gerou a complicação do seu problema circulatório e mais adiante levou a quase amputação”.
O angiologista ainda destaca que o exame físico é imprescindível no diagnóstico da doença e diz que pacientes com trombose apresentam dor local, cor azulada e dormência na região além de palidez.
De acordo com o médico, a prevalência de uma trombose arterial está mais ou menos em torno de 4% da população. “Isso vai aumentando proporcionalmente com a idade e pode variar em torno de 0,9% abaixo dos cinquenta anos, até em torno de 14% a 15% acima dos setenta.
O tratamento da trombose arterial de pacientes urgentes pode ser feito através de drogas anticoagulantes, fibrinolíticos ou procedimentos cirúrgicos para desobstruir os vasos. Nos casos de trombose crônica, onde o paciente apresenta ferida que vai evoluindo, o tratamento clínico pode ser suficiente.
“Se o tratamento clínico inicialmente não teve um efeito benéfico, tem que partir para tratamentos cirúrgicos e através de obstrução daquele vaso ou cirurgia endovascular, que é minimamente invasiva, em que a gente tenta de obstruir e evitar uma amputação maior ou até mesmo salvar aquele membro que tinha risco de ser amputado”. (BN)