Escola de samba, que retratou policiais com chifres e asas, afirma que seu samba-enredo é referente a manifestações culturais, como o álbum “Sobrevivendo no Inferno”, dos Racionais MCs
O deputado federal Capitão Augusto e a deputada estadual Dani Alonso, ambos do PL de São Paulo, enviaram ofício ao governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e ao prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), pedindo que a escola de samba Vai-Vai fique sem acesso a verbas públicas no próximo ano por “desrespeitar” policiais.
“Proponho que a Vai-Vai seja proibida de receber qualquer forma de recurso público no próximo ano fiscal, como forma de sanção pela conduta ofensiva demonstrada. A medida não apenas servirá de punição, mas também como sinal de que ofensas contra instituições e profissionais de segurança não serão toleradas em nosso estado”, diz o documento.
Capitão Augusto, que redige o ofício, também pede que sejam reforçadas as diretrizes e critérios para a concessão de apoio financeiro e patrocínio a entidades e eventos culturais. O deputado defende “assegurar que estes não estejam de forma alguma associados a atividades criminosas ou que promovam mensagens de ódio e desrespeito”.
A CNN procurou a Vai-Vai para que comentasse o ofício. Até o momento, não houve resposta.
No desfile da Vai-Vai para o Carnaval de 2024 no Sambódromo do Anhembi, que aconteceu no último sábado (10), policiais da Tropa de Choque foram retratados com asas e chifres vermelhos –em uma alusão a figuras demoníacas.
Anteriormente a Vai-Vai explicou em nota que seu samba-enredo “tratou-se de um manifesto, uma crítica ao que se entende por cultura na cidade de São Paulo, que exclui manifestações culturais como o hip hop e seus quatro elementos – breaking, graffiti, MCs e DJs”.
Segundo a escola, “nesse contexto, foram feitos, ao longo do desfile, uma série de recortes históricos, como a semana de arte de 1922 e o lançamento do álbum Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MCs, em 1997”.
“Sobrevivendo no Inferno colocou o rap no topo das paradas, vendendo mais de meio milhão de cópias. Racismo, miséria e desigualdade social — temas cutucados nos discos anteriores — são aqui expostos como uma grande ferida aberta, vide Diário de um Detento, inspirada na grande chacina do Carandiru’”, acrescenta a nota.
“Ou seja, a ala retratada no desfile de sábado, da escola de samba Vai-Vai, à luz da liberdade e ludicidade que o Carnaval permite, fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais MCs, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação, mas sim uma ala, como as outras 19 apresentadas pela escola, que homenageiam um movimento”, indica a escola.
“Vale ressaltar que, nesse recorte histórico da década de 1990, a segurança pública no estado de São Paulo era uma questão importante e latente, com índices altíssimos de mortalidade da população preta e periférica”, continua.
“Além disso, é de conhecimento público que os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundo, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado pra época. Ou seja, o que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram, no enredo do desfile”, finaliza a Vai-Vai.
Delegados repudiam
O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) emitiu na segunda-feira (12) uma nota de repúdio contra a Vai-Vai. Segundo a entidade, o enredo apresentado no Sambódromo do Anhembi representou com “escárnio” a figura de agentes da lei.
A nota menciona a ala “Sobrevivendo no Inferno” e destaca o uso de chifres que remetiam à figura de um demônio e “demonizaram a Polícia”, motivo de “extrema indignação” por parte do Sindesp.
De acordo com o sindicado, o samba-enredo “afronta as forças de segurança pública, desrespeita e trata, de forma vil e covarde, profissionais abnegados que se dedicam, dia e noite, à proteção da sociedade e ao combate ao crime, muitas vezes, sob condições precárias e adversas, ao custo de suas próprias vidas e famílias”. (CNN Brasil).