
Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que o consumo elevado de alimentos ultraprocessados aumenta significativamente o risco de morte precoce. De acordo com a pesquisa, publicada no American Journal of Preventive Medicine, a cada 10% de aumento na ingestão desses produtos, o risco de morte prematura cresce 3%.
A análise, realizada em oito países, apontou que até 14% das mortes precoces podem estar relacionadas ao consumo de ultraprocessados. “Os ultraprocessados impactam a saúde para além do alto conteúdo de nutrientes críticos, devido às alterações provocadas pelo processamento industrial e ao uso de aditivos cosméticos”, explicou o pesquisador Eduardo Fernandes Nilson, autor principal do estudo.
O que são ultraprocessados e por que fazem mal
Esses alimentos são formulações industriais prontas para consumo ou de rápido preparo, feitos com ingredientes extraídos de alimentos ou sintetizados em laboratório, e com pouco ou nenhum alimento integral. Entre eles estão: refrigerantes, biscoitos recheados, embutidos, macarrão instantâneo, salgadinhos, cereais matinais açucarados, barras de cereais, sorvetes e refeições congeladas.
Ricos em sódio, gorduras saturadas e açúcares, eles alteram a matriz alimentar, prejudicam a absorção de nutrientes, afetam a saciedade e contêm aditivos associados a riscos químicos e metabólicos. O consumo excessivo está ligado a 32 doenças, incluindo obesidade, diabetes, problemas cardiovasculares, alguns tipos de câncer e até depressão.
Impacto no Brasil e no mundo
O estudo foi o primeiro a calcular a mortalidade atribuível ao consumo de ultraprocessados em múltiplos países. A participação desses produtos na dieta variou de 15% das calorias diárias na Colômbia a mais de 55% nos Estados Unidos e no Reino Unido. Nos países de maior consumo, o índice de mortes prematuras atribuídas a esses produtos chega a 14%.
No Brasil, embora o consumo seja menor do que em nações ricas, cresce rapidamente, o que preocupa especialistas em saúde pública.
Caminhos para reverter o cenário
Entre as medidas defendidas pelos pesquisadores estão: rotulagem frontal de advertência, restrição de vendas em escolas, regulação da publicidade e tributação seletiva — já aplicada no país para bebidas adoçadas, cigarros e álcool.
O Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda priorizar alimentos frescos e minimamente processados como base da dieta. Para Nilson, essa mudança exige políticas que facilitem escolhas saudáveis e acessíveis.
“São necessárias políticas globais urgentes para desestimular o consumo de ultraprocessados e promover padrões alimentares tradicionais baseados em alimentos frescos e minimamente processados”, concluiu o pesquisador.