Os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos de Paula e Silva e a estudante Suzane Louise von Richthofen ao serem detidos, em 2002 Imagem: Luciana Cavalcanti/Folhapress

João tinha três anos quando Cristian Cravinhos, seu pai, e o tio Daniel Cravinhos mataram a pauladas o casal Manfred e Marísia Richthofen, em 31 de outubro de 2002.

O crime, que causou grande comoção no país, contou com a participação de Suzane Richthofen, filha das vítimas, à época uma estudante de direito da PUC-SP de 18 anos.

Passados quase 20 anos do assassinato, João diz sofrer constrangimento e ser "fulminado por olhares desconfiados" todas as vezes que precisa apresentar um documento em que consta o nome do se pai. "Tenho vergonha", disse à Justiça, em uma ação na qual pede a anulação da paternidade. A coluna teve acesso às informações do processo.

João, que em 2009 conseguiu mudar seu sobrenome por decisão judicial, quer agora não apenas retirar os dados do pai de todos os seus documentos, como também revogar qualquer dever jurídico da relação pai-filho. Abre mão, inclusive, do direito de receber pensão ou eventual herança.

Além do constrangimento, o estudante cita no processo o fato de nunca ter tido amparo afetivo e material do pai. Relata que, mesmo antes do crime, teve pouco contato com Cristian: por quatro meses após o nascimento, no dia do seu primeiro aniversário e por cinco meses entre 2000 e 2001, quando os pais resolveram tentar viver em família. Em 2010, na última vez que se encontraram, João visitou o pai no presidio de Tremembé, em São Paulo.

Cravinhos esteve em regime aberto e sofreu nova condenação

Condenado a 38 anos de prisão, Cravinhos foi para o regime semiaberto em 2013. Quatro anos depois passou a cumprir a pena em regime aberto, mas voltou a ser preso após se envolver em uma briga doméstica. Ele estava armado e tentou subornar os policiais. Por conta disso, em setembro de 2018 foi condenado a mais quatro anos e oito meses de prisão.

O processo no qual João pede a desconstituição da paternidade corre em segredo de Justiça. Cravinhos, hoje com 44 anos, ainda não foi ouvido.

João não é o verdadeiro nome do filho de Cravinhos. É usado neste texto a fim de preservar sua real identidade.

Por Rogério Gentile, Colunista do UOL
 

 

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