Numa das primeiras aulas do curso de psicologia, fomos apresentados à Freud e à psicanálise. Me chamou a atenção quando o professor falava das histéricas. Nosso vocabulário geralmente generaliza no masculino mas, na aula, não se falava dos histéricos. Não resisti e perguntei. O professor explicou que, naquela época, se pensava que a doença acometia apenas as mulheres, que eram a grande maioria dos pacientes. Hoje se sabe que acomete também os homens. Ainda intrigada, perguntei  porque as mulheres eram quase a totalidade dos pacientes e ele me explicou que era por conta da repressão que sofriam.  

De Freud para cá (final do século XIX, início do século XX), muita coisa mudou. A mulher ganhou espaço, passou a votar e a trabalhar fora de casa. A psicologia e a psiquiatria avançaram e novas doenças foram classificadas e novos tratamentos surgiram. Mas tem algo não mudou: a relação da repressão feminina, hoje travestida e disfarçada, com a saúde emocional das mulheres.

Pesquisas mostram que a depressão e outros transtornos como ansiedade, stress, perda de sono, etc, acometem duas mulheres para cada homem. Na raiz do problema, repressão sexual, submissão, dependência econômica, jornadas longas e repetitivas conciliando trabalho e vida pessoal (em especial os cuidados com a casa e os filhos) e falta de tempo para lazer e descanso.

Hoje quando alguém me pede um conselho eu digo: vá cuidar da sua cabeça, do seu coração e da sua alma. Ainda que as mulheres liderem a procura por apoio psicológico ou terapias alternativas, muitas ainda não priorizam isso. Acham que não precisam, que dão conta. Na minha opinião, muitas preferem dedicar seu pouco tempo e dinheiro livres para o salão ou as compras e só vão pedir ajuda quando a situação já está muito séria.

Talvez porque ainda exista muito preconceito e desinformação com relação aos cuidados com a saúde mental. Vale lembrar que a psicologia surge como um processo de autoconhecimento e autodesenvolvimento, passando a ser associada aos transtornos no período do pós guerra. Ou seja, não precisamos estar doentes para buscar apoio. Podemos ter ajuda de um profissional para nos fortalecer, assumir o controle das nossas vidas e, acima de tudo, evitar adoecer.Falo da psicologia, mas o cuidado com a saúde mental envolve outros fatores como por exemplo fazer exercício para produzir endorfina, meditar para produzir dopamina e serotonina, namorar e sair com as amigas para dar boas risadas e produzir ocitocina. Todos estes nomes estranhos são hormônios de prazer e felicidade.

O autoconhecimento nos leva a caminho muito mais profundos. Às vezes estamos reclamando de uma relação tóxica, de uma relação de trabalho injusta, de falta de tempo e dinheiro, de uma série de coisas, mas nos sabotamos e nos mantemos nestes ciclos viciosos. Não vamos encontrar a solução em artigos como esse ou em livros de autoajuda se não estivermos dispostas a mergulhar de cabeça em nós e, sim, encarar nossos fantasmas dessa existência ou de outras que trazemos nosso campo morfogenético. Porque sim, trazemos uma memória genética de nossas mães, avós, bisavós, de muitas mulheres que sofreram no passado para que pudéssemos ser o que somos hoje.

Amigas, janeiro (branco) chegou junto com a segunda onda da Covid no Brasil, com as alarmantes estatísticas sobre feminicídio e com mulheres à beira de um ataque de nervos. Mais do que nunca precisamos nos cuidar. E a cura está dentro de nós, não fora. E ela não vem como um passe de mágica. Ela é construída com prevenção, tratamento e manutenção. Com amor próprio e auto cuidado. Fica a dica.

por Marta Castro


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