Os dados foram divulgados hoje no Atlas da Violência 2021, produzido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e se referem ao ano de 2019.
Apesar de a taxa de homicídios a cada 100 mil habitantes apresentar uma tendência de queda nos últimos anos —atribuída, em parte, a uma produção imprecisa de dados sobre mortes violentas—, a disparidade entre negros e não negros (grupo que une brancos, indígenas e amarelos) não apresentou mudança significativa.
O grupo de negros une pretos e pardos, de acordo com classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que também estima a porcentagem de população por cor/raça.
Em 2010, a taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes era de 35,7 para negros e 15,1 para não negros —ou seja, negros tinham 2,4 vezes mais risco de assassinato.
No ano com as maiores taxas da série histórica, 2017, a diferença também atingiu seu maior nível: 2,7. Ali, a taxa de negros mortos era de 43,1 para cada 100 mil habitantes; não negros, 16.
O ano de 2019 registrou as menores taxas para ambos os grupos na década (29,2 e 11,2, respectivamente). Ainda assim, negros continuam correndo mais risco.
Imagem: Arte/UOLDesigualdades históricas impactam nos números
Para Dennis Pacheco, pesquisador do fórum, os números refletem um problema histórico do Brasil, que atinge várias áreas da sociedade: a ausência de políticas públicas direcionadas à população negra.
“A ausência de políticas públicas –e também essa forma de fazer política pública, não apoiada nas evidências e bastante antiquada– faz com que esses grupos permaneçam mais vulneráveis ao longo de gerações”.
Dennis Pacheco, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O Atlas também cita outro responsável por esse dado: instituições, como as polícias, “que operam estratégias de policiamento baseadas em critérios raciais e em preconceitos sociais”.
Para Pacheco, um erro comum da análise sobre os dados de violência no Brasil é associar tais índices somente à segurança pública. Ele cita que, para reduzir os números, é preciso olhar para outros setores que impactam na vulnerabilidade da população negra: segregação urbana e renda, por exemplo.
“É histórico que pessoas que moram em determinados espaços têm maior suscetibilidade a sofrer homicídio. O Estado deveria pensar alternativas, em termos de resolução de conflito, para essas pessoas”, afirma.
O pesquisador destaca a importância de avaliar a questão da renda de forma que não se “criminalize a pobreza”, ou seja, que não se atribua altas taxas de homicídio somente à pessoa ser negra e pobre, mas sim às vulnerabilidades que a falta de renda impõe.
Lola Ferreira / Do UOL, no Rio